quinta-feira, 16 de setembro de 2021

Romance da lua, lua



A lua veio à forja

com sua anquinha de nardos.

O menino a olha, olha.

O menino está olhando-a.


Lá no espaço comovido

a lua move seus braços

e exibe, lúbrica e pura,

seus seios de duro estanho.


– Foge lua, lua, lua.

Se chegassem os gitanos,

com teu coração fariam

anéis brancos e colares.


– Menino, deixa que dance.

Quando os gitanos chegarem,

te acharão sobre a bigorna

com os olhinhos fechados.


– Foge lua, lua, lua,

que já ouço seus cavalos.

– Menino, deixa-me, não pises

minha brancura engomada.


O ginete se acercava

tocando o tambor do chão.

Dentro da forja o menino

tem os olhos fechados.


Vinham pelo oliveiral

os gitanos, bronze e sonho.

As cabeças levantadas

e os olhos semicerrados.


Como canta ali o bufo,

ai, como canta na árvore.

Pelo céu a lua segue

de mãos dadas com um menino.


Lá dentro da forja choram,

dando gritos, os gitanos.

O ar a vela, vela.

O ar a está velando.


Federico Garcia Lorca

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