quarta-feira, 26 de outubro de 2022

A FLAUTA-VÉRTEBRA

 

A todas vocês,

que eu amei e que eu amo,

ícones guardados num coração-caverna,

como quem num banquete ergue a taça e

                                         [ celebra,

repleto de versos levanto meu crânio.


Penso, mais de uma vez:

seria melhor talvez

pôr-me o ponto final de um balaço.

Em todo caso

eu

hoje vou dar meu concerto de adeus.


Memória!

Convoca aos salões do cérebro

um renque inumerável de amadas.

Verte o riso de pupila em pupila,

veste a noite de núpcias passadas.

De corpo a corpo verta a alegria.

esta noite ficará na História.

Hoje executarei meus versos

na flauta de minhas próprias vértebras.


Vladimir Maiakovski

2 comentários:

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