sábado, 16 de novembro de 2024

Homeopatia cotidiana n° 16

 Ah... como estava brava por todas as negativas daquele filho da puta. Às vezes apenas o silêncio, sem resposta alguma. 

Por que ainda insistia? Essa pergunta martelava o prego imaginário que queria lobotomizá-la há tempos e ela não permitia. Queria manter a vontade de encontrá-lo, ainda sentia o respirar dele em seu pescoço quando viu a tatuagem que o eternizou em sua espádua. Colou sua imagem de gato de rua em sua pele. Quem faz isso pelo outro? Os apaixonados. Continuava assim porque ele se recusou a destruir esse sentimento. Negando à ela o convívio, deixando-o apenas para o reino de Morpheus, não possibilitou que o cotidiano destruísse a ligação que tinha com ele. "Isso é maquiavélico", pensou. Mas ainda assim era o que restava. E ela não queria perder isso, poucas das coisas que lhe restava da juventude feliz e despreocupada. 

Ainda tinha esperanças de revisitar aquele tempo e trazê-lo para o presente. Seria o seu presente. 

terça-feira, 18 de junho de 2024

Alô

 Ele ligou.

Depois de muito tempo, ligou. 

Apenas "alô". Que saudade. 

Desligou. 

Não atendeu mais.

Valeu o dia. 

Valeu a vida. 

Mas um café,

Valeria a eternidade.

sábado, 27 de abril de 2024

Há de haver algum sentido

 Após triste e pesado tempo de hibernação...

O urso, o jabuti ou qualquer outra espécie volta à vida. 

Eu apenas abri o olho. Me movimento, trabalho e volto à casa. Durmo e acordo.

Ensino. Tento. Juro que. 

Procuro ver graça nas coisas. Às vezes até vejo. Esboço um sorriso.  

Visito os pais. Higienizo a casa. Cozinho para a filha ainda adolescente (que cresça rápido, por favor). 

Deito e tento dormir. O zumbido dentro da cabeça é constante. Um enxame de abelhas não me abandona há tempos. Nada há para polinizar.  Elas insistem. 

Qual é o sentido disso tudo? Espero que haja algum. Quero crer que há. Não é justo qie não haja.