- Poxa vida, Rubens! Qual é seu problema? - Selene deixa o quinto recado na velha secretária eletrônica. Desliga o telefone com raiva. Fica pensativa... E se Rubens tivesse morrido? Se moribundo, precisando de auxílio? Nunca reclamava, mas ela sabia que a idade estava pesando sobre seu corpo. Das últimas vezes, não havia conseguido a antiga performance. Nem ela, que fique registrado. Fazia tempo (que Rubens) não mandava algo inédito pra publicação. Depois que parou-se de circular os impressos, deu uma desanimada. Andava a dizer sobre os anos passados, lamentava o presente. Não a convidava com tanta frequência, a subir ao apartamento. Andava a beber demais (ela sabia) e a comer de menos (presumia). Janelas não se abriam ao sol, girassóis ressequidos, algodão mofado. Ela passava ao menos uma vez ao dia para conferir. Não, não deve estar morto. Não é do feitio de Rubens morrer assim, sem anunciação. Ademais, cheiraria mal e a vizinha, cuidadora do alheio, logo daria a notícia (tinha deixado o telefone, para caso de alguma emergência). Mas que droga, Rubens! É bom você ter morrido, ou eu mesma lhe mato!
Divagando sobre a possibilidade de morte de seu melhor (e único) cronista, adormeceu. Sonhou com um curinga a lhe dar bebida de cor púrpura.
O sonho, sempre sonhado só... Onde andaria Rubens?

Ando a beber demais? Na verdade, menos que o suficiente. A comer de menos? Sem dúvidas... não como mais ninguém. Minhas janelas ainda se abrem, mas não são as mesmas sob as quais passas morrendo de vontade de uivar e buzinar.
ResponderExcluirEu não uivo. Eu mio.
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