domingo, 17 de janeiro de 2021

Homeopatia cotidiana n°6

 - Poxa vida, Rubens! Qual é seu problema? - Selene deixa o quinto recado na velha secretária eletrônica. Desliga o telefone com raiva. Fica  pensativa... E se Rubens tivesse morrido? Se moribundo, precisando de auxílio? Nunca reclamava, mas ela sabia que a idade estava pesando sobre seu corpo. Das últimas vezes, não havia conseguido a antiga performance.  Nem ela, que fique registrado. Fazia tempo (que Rubens) não mandava algo inédito pra publicação. Depois que parou-se de circular os impressos, deu uma desanimada. Andava a dizer sobre os anos passados, lamentava o presente. Não a convidava com tanta frequência, a subir ao apartamento. Andava a beber demais  (ela sabia) e a comer de menos (presumia). Janelas não se abriam ao sol, girassóis ressequidos, algodão mofado. Ela passava ao menos uma vez ao dia para conferir. Não, não deve estar morto. Não é do feitio de Rubens morrer assim, sem anunciação. Ademais, cheiraria mal e a vizinha, cuidadora do alheio, logo daria a notícia (tinha deixado o telefone, para caso de alguma emergência). Mas que droga, Rubens! É bom você ter morrido, ou eu mesma lhe mato!

Divagando sobre a possibilidade de morte de seu melhor (e  único) cronista, adormeceu. Sonhou com um curinga a lhe dar bebida de cor púrpura. 

O sonho, sempre sonhado só... Onde andaria Rubens?


2 comentários:

  1. Ando a beber demais? Na verdade, menos que o suficiente. A comer de menos? Sem dúvidas... não como mais ninguém. Minhas janelas ainda se abrem, mas não são as mesmas sob as quais passas morrendo de vontade de uivar e buzinar.

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